amar e perder é uma merda
você deixaria de viver algo lindo por saber que teria o coração partido no final?
Saudade é uma das minhas palavras favoritas no dicionário brasileiro. Ela não pode ser traduzida para outras línguas com toda a sua intensidade e significado, então é como se fosse um segredinho que só os falantes da língua portuguesa têm.
Mas, por mais que tenha um lado poético e carinhoso, a saudade carrega sobre si o peso de ser o sentimento mais avassalador que alguém pode ter.
E foi pensando nisso que me veio na cabeça aquele velho dilema: É melhor amar e perder, ou nunca ter amado?
Por instinto humano, acredito que a maioria das pessoas responderia que é melhor amar. Afinal, do que seria a vida sem amor? Mas, sinceramente, acho que tais pessoas nunca tiveram a experiência desesperadora de perder aquele que faz seu coração errar uma batida. Não me leve a mal, eu também nunca amei ninguém, mas tenho certo entendimento quando o assunto é demorar para superar alguém (você, leitor, ficaria surpreso).
‘Sofri’ durante cerca de um ano tentando superar um menino específico e passageiro na minha vida. E eu espero nunca mais sentir aquilo novamente. A paixão era tão esmagadora que eu sentia meu coração sendo arrancado do peito cada vez que lembrava dele. Cada vez que lembrava que não tinha ele. Que nunca teria.
Se você nunca se apaixonou loucamente ou nunca amou, você não vai experienciar a dor intensa, quase física, que é a perda. O sentimento mais forte que vai ter é a frustração de não ter vivido o que acredita ser um romance perfeito, de conto de fadas. Ainda pode dormir tranquilamente, sem lembranças indesejadas quando está deitado na cama, e no silêncio, quase ouve um sussurro da voz dele. Pode ir para lugares sem medo de encontrar ele. Pode comer sem sentir a ansiedade no estômago só de pensar nele. Pode falar com seus amigos normalmente sem irritá-los por falar do mesmo assunto de novo e de novo. E de novo.
(Já dizia Olivia Rodrigo)
Escrevendo esse texto, me veio na memória o filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Para você que já assistiu, sabe que se encaixa perfeitamente nesse contexto. Joel e Clementine vivem um ciclo de apagar um ao outro de suas memórias, achando que seria a solução para seu sofrimento pós-término, mas suas memórias voltavam, seus corações ainda se lembravam dos toques e momentos, e eles sempre se reencontravam.
O tempo cura, isso é fato. Mas mesmo após seu coração ser colocado de volta em seu peito, as feridas não vão embora, elas se transformam em cicatrizes. Marcas deixadas pela pessoa, que você levará sempre consigo.
Então, você que leu até aqui, participe da discussão: É melhor amar e perder, ou nunca ter amado? você deixaria de viver algo lindo por saber que teria o coração partido no final?
A provocação final foi ótima!
Acredito que a pergunta se encaixa em vários âmbitos da nossa vida, especialmente quanto a dúvida sobre se é melhor viver o momento mesmo sabendo que ele é finito. No entanto, quando penso no campo do amor e das paixões, me recordo de Noites Brancas, de Dostoiévski. O protagonista, um jovem sonhador se apaixona de forma intensiva por uma jovem gentil, cujo coração já pertence a outro. Mesmo ciente disso, ele se permite viver aquele sentimento em sua plenitude, ainda que soubesse da efemeridade daquele afeto.
No desfecho, ele perde. Seus sentimentos foram feridos, mas ele não se arrepende. E é aí que está o ponto: o amor vivido, por mais breve que tenha sido, foi verdadeiro, foi belo e profundamente humano.
A dor da perda é o preço da intensidade. Mas viver no medo de sentir é comparável a uma prisão. Por mais que doa, eu não deixaria de viver algo lindo por temor do fim. Porque, como escreveu Dostoiévski, ´´um instante de verdadeira felicidade pode justificar toda uma vida``.
É incrível com o substack sempre sabe o que é quando dizer, respondendo, para mim, nunca ter amado, logicamente é o menos arriscado, mas as pessoas são incompletas o amor, então elas vão buscar confronto com essa dor